sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Força Verissimo!!!




Quem nunca leu Luis Fernando Verissimo? Quem, muitas vezes até sem perceber, passou horas e horas lendo um de seus inúmeros livros de histórias e crônicas?
Ontem recebi a noticia, que o escritor está internado em estado grave e o risco de óbito é real...
Ele teve perda da função renal, passa por diálise e está com um quadro de infecção com causa ainda não determinada. O tratamento está sendo feito com antibióticos.

Verissimo está no Centro de Tratamento Intensivo (CTI)  e respira com ajuda de aparelhos...

Fica minha torcida pela recuperação desse magnifico escritor...

Em uma simples homenagem, posto á baixo, um texto de Verissimo, onde ele analisa o futebol e a paixão do brasileiro por esse esporte...

Força Verissimo!!!


                                           O Mistério do Futebol

Começa quando a gente é criança. Quando qualquer coisa - até o corredor da casa - é um campo de futebol e qualquer coisa vagamente esférica é a bola. Se é genético, não se sabe. Um brasileiro criado na selva por chimpanzés, quando se pusesse de pé, começaria a fazer embaixadas com frutas, mesmo sem saber o que estava fazendo? Não se sabe.
  
    Nenhum prazer que teremos na vida depois, incluindo a primeira transa, se iguala ao prazer da primeira bola de verdade. Autobiografia: sou do tempo da bola de couro com cor de couro. A oficial, número 5. Ganhei a minha primeira com cinco ou seis anos. Ainda me lembro do cheiro. Depois de ganhá-la, você ficava num dilema: levá-la para a calçada e começar a chutá-la, ou preservar o seu couro reluzente?  Uma bola futebol de verdade era uma coisa tão preciosa que se hesitava em estragá-la com o futebol.

   Futebol de calçada. O tamanho dos times variava. De um para cada lado a 14 ou 15 para cada lado.  Duração das partidas: até escurecer ou a vizinhança reclamar, o que acontecesse primeiro.

Nada interrompia as partidas. Ninguém saía. Joelho ralado, a mãe via depois. Gente passando na calçada que se cuidasse. Só se respeitava velhinha, deficiente físico e, vá lá, grávida. Os outros não estavam livres de ser atropelados. Quem mandara invadir nosso campo?

   Comparado com calçada, terreno baldio era estádio. E terreno baldio com goleiras, então, era Maracanã. As goleiras podiam ser feitas com sarrafos ou galhos de árvore. Não importava, eram goleiras.  Um luxo antes inimaginável.

   O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar, na experiência humana? Ou na experiência humana de um brasileiro?   

   Todos estes prazeres passam - com o tempo e as obrigações, com a vida séria, com a barriga -, mas o amor pelo nosso time continua. Confiamos ao nosso time a tarefa de continuar nossa infância por nós. Passamos-lhe a guarda dos nossos prazeres com a bola. A relação com o nosso time é a única das nossas relações infantis que perdura tão intensa e irracional quanto antes. Ou mais.

   De onde vem isso?  Que tipo de amor é esse? Um mistério. Dizem que no fundo é uma necessidade de guerra. De ter uma bandeira, ser uma nação e arrasar outras nações, nem que seja metaforicamente. Psicologia fácil. Não explica por que a pequena torcida do Atlético Cafundó,  que nunca arrasará ninguém, continua torcendo pelo seu time. Talvez o que a gente ame no futebol seja o nosso amor pelo futebol. Isso que nos faz diferentes dos outros, que amam o futebol mas não tanto, não tão brasileiramente.

   Ou talvez o que a gente ame seja justamente o mistério.

* Luis Fernando Verissimo –  Jornalista e escritor




Um comentário:

  1. O massa é que comprei o último livro dele essa semana, o Diálogos Impossíveis, nem li ainda, tomara que ele saia dessa, tem muito a escrever ainda.

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